Família goiana tem hexa nas mãos e no coração

Família goiana tem hexa nas mãos e no coração.

“O hexa tá nas mãos!!!”. A brincadeira do ex-secretário de Finanças da Prefeitura de Goiânia, Alessandro Melo, a partir de uma fotografia postada em seu perfil no Instagram, chama a atenção para a condição genética familiar. Ele e os filhos Guilherme, de 13 anos, e Vinicius, de 6, possuem seis dedos nas mãos e nos pés (polidactilia), característica que para eles é motivo de orgulho, nada tem de negativo e que agora pode ser usada para atrair mais um título para o Brasil.

Brasiliense, cientista político por formação, Alessandro Melo da Silva, de 45 anos, adotou Goiânia como cidade desde 2004, quando foi aprovado em concurso da Secretaria de Estado de Economia. É com muita descontração que ele detalha a saga da polidactilia em sua família, presente em cerca de duas dezenas de seus membros. Depois que o Brasil conquistou o pentacampeonato mundial de futebol há 20 anos, a brincadeira de usar a deformidade congênita como um amuleto se tornou uma constante na “família hexa”, a cada quatro anos, nas edições da Copa do Mundo.

Pelo mesmo motivo, o baiano de Conceição do Coité, município a 220 km de Salvador, Josevaldo Almeida Thomé, de 45 anos, ficou famoso. Com seis dedos em cada mão, o técnico em manutenção de equipamentos hospitalares e odontológicos, tem certeza de que vai dar sorte para a seleção brasileira que disputa a Copa do Mundo nos gramados do Catar. O Tetéu do Hexa, como passou a ser conhecido, não passou despercebido pela família Silva. “Eu até brinquei no grupo da família que poderia ser nosso parente porque meu avô viajava muito”, se diverte Alessandro.

“Na minha família temos um apreço grande por esta característica. Quando vamos fazer o ultrassom, a primeira coisa que queremos saber não é o sexo, mas se o bebê tem os seis dedos”, relata, num misto de diversão e verdade. Alessandro vibrou ao descobrir que os filhos vieram como ele. “Nós três possuímos seis dedos nas mãos e nos pés. Tudo completo!” E relata que foi o avô paterno, Francisco de Assis Carvalho da Silva, o Mister Six ou Dr. Six, o grande responsável por disseminar na família o orgulho pela condição genética.

“Ele falava que éramos superiores por ter mais dedos, por ter uma mão grande e forte. E isso também passo para os meus filhos.” Alessandro conta que, quando criança, enfrentou uma única vez a piadinha de um colega por ser um hexadátilo (ter seis dedos), mas diante de sua resposta, a chacota não avançou. Guilherme, seu primogênito, aprendeu a usar a anomalia em favor próprio, apesar da curiosidade sempre presente. “A gente não sofre porque construímos esse ambiente favorável, mostrando que as mãos de cinco dedos são inferiores às nossas e não o contrário”. O pequeno Vinícius está aprendendo bem a lição.

Kátia, casada há 17 anos com Alessandro, revela que já houve ocasião em que a mãe de um coleguinha de Guilherme reclamou porque o filho também queria ter seis dedos. Quando conheceu o marido, foi o tamanho das mãos dele que chamou sua atenção. “Demorei a visualizar o sexto dedo. Hoje acho normal.” Ela percebe que os filhos herdaram do pai não somente a característica física, mas o que ela trouxe junto. “O jeito deles pegarem a caneta é diferente e têm dificuldade com a tesoura”, detalha. Nos pés, o sexto dedo impede o uso de sapatos com bicos mais finos ou sandálias de dedo.

Estima-se que a polidactilia ocorre apenas em 1 a cada 3 mil nascidos vivos. Não há uma certeza sobre quando ela surgiu na família Silva, mas os indícios apontam para a avó do avô paterno de Alessandro Melo, no interior do Maranhão, como sendo a primeira pessoa a apresentar a característica. “Meu avô teve cinco filhos e quatro nasceram assim. Além de mim, tenho primos e aqui em casa tive a sorte de os meus dois filhos também terem a mesma condição.” O único irmão de Alessandro não nasceu hexadátilo.

Expulsão pela defesa ousada de defender a condição genética

A polidactilia é responsável por passagens marcantes na vida de Alessandro Melo. Seu sonho de criança era se tornar um piloto da Força Aérea Brasileira e ele estudou muito para chegar lá. Depois de passar em todas as provas da academia, na fase final os médicos identificaram o sexto dedo nos membros. “O manual da Força Aérea dizia que para ser um piloto o candidato não podia ter nada diferente. Eu tive a ousadia de falar para o tenente-coronel que me avaliava que, com a mão dele de cinco dedos, ele não fazia tudo o que eu fazia com a minha de seis; e tudo o que ele fazia com a dele de cinco eu fazia com a minha. Fui expulso. Saí da sala dele direto para a rodoviária”, lembra. 

Inconformado, o hexadátilo Alessandro Melo decidiu estudar aviação nos Estados Unidos. Na Lewis University, perto de Chicago, teve a oportunidade de ter acesso a uma boa instrução aeronáutica. Por ter sobressaído no curso, segundo ele, foi convidado a integrar o corpo de fuzileiros navais norte-americano, os conhecidos Marines. “Só não fui um piloto de F-18 porque minha mãe fez uma campanha gigantesca para eu não aceitar porque os Estados Unidos estavam sempre envolvidos numa guerra. Lá, me aceitaram com os seis dedos. Na época fiquei frustrado, mas hoje eu entendo.”

A aviação nunca deixou de ser uma paixão. Muito conhecido pelos seis dedos que possui, Alessandro Melo conta com o apoio dos amigos para não deixar no passado a vocação que cultivou para se tornar um piloto. O plano futuro, conforme Kátia, é pilotar um caça, o que ele espera conseguir na Rússia onde é comum o aluguel desse tipo de aeronave. “Mas isso será lá na frente, depois de pagar a escola das crianças”, brinca. 

Mister Six, o cavaquinista de seis dedos faz sucesso

Dono da carteira número 1 do Clube do Choro de Brasília, um dos mais reverenciados do País no gênero musical, o maranhense Francisco de Assis Carvalho da Silva, o Six, disseminou o orgulho da polidactilia familiar. De família humilde no interior do Maranhão, chegou a Brasília na época da construção da capital. Ali foi militar, funcionário do Banco do Brasil e se transformou num grande advogado, tendo trabalhado com o então ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes. A proximidade com o poder facilitou a estruturação do clube, do qual foi um dos idealizadores como um exímio tocador de cavaquinho. 

Dono da carteira número 1 do Clube do Choro de Brasília, um dos mais reverenciados do País no gênero musical, o maranhense Francisco de Assis Carvalho da Silva, o Six, disseminou o orgulho da polidactilia familiar. De família humilde no interior do Maranhão, chegou a Brasília na época da construção da capital. Ali foi militar, funcionário do Banco do Brasil e se transformou num grande advogado, tendo trabalhado com o então ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes. A proximidade com o poder facilitou a estruturação do clube, do qual foi um dos idealizadores como um exímio tocador de cavaquinho. 

Six, que é mencionado em livros e estudos sobre o choro, ganhou um capítulo na obra A Velha Guarda do Choro no Planalto Central, organizado por Ana Lion e Sebastião Rios. Sua paixão pela música e pelo gênero o manteve até a morte, em 2004, no centro das atenções dos chorões candangos. Encontros musicais eram frequentes em sua casa, em Brasília, onde não faltava um bom uísque. E até para saboreá-lo, o dedo a mais fazia diferença. “Ele dizia que o dedo extra era para mexer o gelo do uísque. Na nossa mão, o sexto dedo sempre fica para cima no momento de segurar o copo”, explica Alessandro Melo.

Fonte: O Popular

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