Jovem de 18 anos com síndrome rara morre dias após ter diagnóstico de ‘ansiedade exacerbada’ ao ser atendido em UPA, diz família

Segundo a esposa do jovem, ele foi liberado pela unidade de saúde e morreu dias depois. Ela contou que ele morreu em casa, enquanto estava deitado.

Um jovem de 18 anos, que tinha uma síndrome rara, morreu dias após ter sido diagnosticado com ‘ansiedade exacerbada’, ao ser atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento de Anápolis, a 55 km de Goiânia, segundo contou a família. A esposa do jovem, Beatryz Novaes de Almeida, de 19 anos, explicou que Gustavo Henrique Silva sentiu dores no peito e procurou atendimendo na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Alair Mafra de Andrade, mas foi liberado – entenda sobre a síndome que o jovem tinha ao final da reportagem.

“Ele morreu na minha frente. A gente estava conversando e, do nada, pareceu que acabou o assunto. Quando fui ver, ele tinha morrido”, contou Beatryz.

Beatryz contou que Gustavo procurou atendimento médico na sexta-feira (22) depois de sentir fortes dores no peito. No entanto, ao receber o diagnóstico de ansiedade e uma receita de dipirona, o jovem foi para casa, onde permaneceu sentindo dores até segunda-feira. A mulher conta que, na terça-feira, o marido acordou melhor e parecia estar sem dores, mas a noite, morreu enquanto estava deitado com ela, jogando no celular, na terça-feira (25).

A mulher descreveu que, durante os dias em que Gustavo passou mal, ele chorava e gritava de dor no coração.

“Ele sentia muita dor. Ele chorava. Se ele levantava, ele ficava tonto. Ele estava agoniado”, contou.

Ao g1, o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humanos (INDSH) informou que, ao ser atendido, Gustavo estava com um quadro de dor torácica atípica, com ansiedade exacerbada, sem comorbidades e sem queixa semelhante no passado (veja nota completa ao final da reportagem). O instituto ainda afirmou que, no dia, o jovem passou por um eletrocardiograma, que não apresentou alterações.

No entanto, apesar da instituição dizer que o jovem não tinha comorbidades, Beatryz explica que, durante o atendimento médico, ela e o marido explicaram à equipe sobre o fato de Gustavo ter o diagnóstico prévio da síndrome.

“Chegamos em casa e ele continuou passando mal. Perguntei se ele queria ir de novo, mas ele disse que não ia adiantar, porque não tinham resolvido”, contou Beatryz.

A Secretaria Municipal de Saúde de Anápolis disse ainda que em nenhum momento foi relatado que o paciente era portador de síndrome de Marfan, bem como comunicada nenhuma comorbidade ou uso de medicações. “Apenas foi relatado que a mãe havia falecido por problemas cardíacos, não especificando qual doença a teria acometido”, escreveu a nota (veja a íntegra ao fim do texto).

Segundo Beatryz, assim como a mãe dele, Gustavo havia sido diagnosticado com a Síndrome de Marfan quando criança, uma doença rara que afeta tecidos conjuntivos. Por isso, ele era aposentado.

Na declaração de morte, um tamponamento cardíaco e a síndrome de Marfan são citadas como causas da morte. O jovem foi velado e sepultado na quarta-feira (26) em Anápolis.

Para entender mais sobre a síndrome de Marfan, que é considerada rara, o g1 conversou com a médica reumatologista Camila Guimarães. Ela explicou que a síndrome é uma doença rara do tecido conjuntivo que leva a alterações principalmente do sistema cardiovascular, musculoesquelético e oftalmológico.

“As alterações cardíacas são as principais complicações da doença e as principais causas de mortalidade”, a especialista.

Ainda segundo a médica, como se trata de uma doença causada por mutação genética, não existe uma cura específica para esta doença. No entanto, o diagnóstico precoce é importante para a prevenção.

Nota do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humanos na íntegra:

“O Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humanos (INDSH) – organização social responsável pela gestão da UPA Alair Mafra de Andrade – informa que o paciente G.H.S.M., foi atendido no dia 22 de abril com quadro de dor torácica atípica por equipe da unidade, medicado com analgésico para cessar a dor. Após primeira classificação de risco, paciente informou em consulta que estava muito ansioso pela dor que apresentava.

O eletrocardiograma foi realizado na unidade e consta do prontuário do paciente. Também consta que em nenhum momento foi relatado que o paciente era portador de síndrome de Marfan, bem como comunicada nenhuma comorbidade ou uso de medicações. Apenas foi relatado que a mãe havia falecido por problemas cardíacos, não especificando qual doença a teria acometido.

O diagnóstico de ansiedade foi feito baseado na ausência de achado clínico ou exame que justificasse a dor, assim como o próprio relato do paciente de estar ansioso após apresentar o quadro de dor torácica.

Ainda vale salientar que o paciente passou por atendimento na UPA Alair Mafra no dia 22 de abril e veio a falecer em sua residência no dia 25 de abriu, conforme noticiado, sendo que, de alguma doença aguda que não tivesse sido diagnosticada na unidade, o mesmo teria retornado ou cursado com o desfecho final nas horas próximas ao atendimento e não três dias após a sua consulta na UPA, sem buscar outro serviço de saúde com queixa relacionada ou sem necessidade de hospitalização.

A Síndrome de Marfan é uma doença genética rara, que afeta o tecido conjuntivo e sua principal complicação cardiovascular não é infarto miocárdico, mas sim, dissecação aórtica que não teria cursado com melhora clínica com analgésico comum. Casos como este, tem desfecho agudo desfavorável quando da dissecção da aorta e cursa com dor lancinante que não cessa com analgésico comum.

A UPA Alair Mafra, mantendo o compromisso de respeito à vida, lamenta a morte do jovem, envia os pêsames à família e se coloca à disposição para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários.”

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